20 abril 2008

Adolfo Caminha

Há cem anos, mais precisamente no dia 1º. de janeiro de 1897, falecia no Rio de Janeiro um dos mais festejados nomes da literatura brasileira. Adolfo Caminha, um cearense de Aracati, nem completara ainda trinta anos de idade e já se despedia deste vale de lágrimas, depois de ter vivido uma existência atribulada, própria das personalidades polêmicas. Fora laureado com uma certa fama nos poucos anos de vida, mercê de seu talento como romancista que abraçou o naturalismo como expressão estética para sua escritura de prosador ficcionista.

Como poeta não era lá essas coisas, mas andou cometendo alguns versos que mereceram referências esparsas da crítica daquém e dalém. Foi como romancista que o polêmico escritor tornou-se conhecido em nível nacional. Principalmente após sua morte, como parece ocorrer costumeiramente com as figuras geniais.

Produziu Adolfo Caminha, entre outros livros de feição naturalista, o muito lido A Normalista e o quase desconhecido Bom Crioulo. Este, desde sua publicação, em 1895, vergastado pela hipocrisia e mesmo a ira inquisitorial de uma crítica atrasada e preconceituosa, que chegou a taxá-lo de "livro comunista". Ora, vejam só a que ponto chega a ignorância! E com respeito às análises do Bom Crioulo essa situação parece persistir, esquecendo-se os críticos que lhes ateiam fogo, ser necessário abstrair-se qualquer visão contrária ao tema abordado por um autor, pois o que está sob análise são as qualidades e/ou defeitos da literatura a ser avaliada, consoante ensina o mestre Tristão de Athayde, um crítico literário que jamais deixou-se dominar por sua visão religiosa do mundo. Tudo o que acima foi dito e muito mais, o caro leitor saberá ao ler o livro ADOLFO CAMINHA (Vida e Obra), escrito pelo Professor Sânzio de Azevedo, poeta, crítico literário e historiador da literatura. Membro da Academia Cearense de Letras, Sânzio de Azevedo ocupa a cadeira de nº. 1, cujo patrono é Adolfo Caminha.

Com dezenas de livros publicados, é considerado com justiça um dos mais preeminentes nomes no cenário da intelectualidade cearense e brasileira.

A leitura de mais esse importante trabalho de pesquisa realizado por Sânzio de Azevedo vai colocar o leitor em frente do historiador e analista da nossa literatura, fazendo-o deparar-se não apenas com fatos até aqui desconhecidos da vida do irrequieto romancista aracatiense que finou-se na pujança da juventude, mas também apreciar a análise arguta e a crítica abalizada, da obra do autor d'A Normalista.

A propósito: Com dezenas de livros publicados, é considerado com justiça um dos mais preeminentes nomes no cenário da intelectualidade cearense e brasileira. A leitura de mais esse importante trabalho de pesquisa realizado por Sânzio de Azevedo vai colocar o leitor em frente do historiador e analista da nossa literatura, fazendo-o deparar-se não apenas com fatos até aqui desconhecidos da vida do irrequieto romancista aracatiense que finou-se na pujança da juventude, mas também apreciar a análise arguta e a crítica abalizada, da obra do autor d'A Normalista. A propósito: Sânzio de Azevedo observa com propriedade ser o Bom Crioulo a obra prima da produção naturalista do seu biografado.

O mui lido A Normalista é, portanto, o mais conhecido do grande público. Porém, não o esteticamente melhor. Pois bem, meu caro leitor, não é justo que eu lhe usurpe o prazer de beber na fonte a história desse tão talentoso quanto angustiado romancista que foi Adolfo Caminha, um dos que fundaram a famosa Padaria Espiritual, o movimento literário encabeçado por Antônio Sales e que causou pruridos moralistas no Ceará da última década do passado século.

Aliás, para não fugir à regra, Caminha veio a romper com os seus colegas padeiros anos depois. É ler ADOLFO CAMINHA (Vida e Obra) e ter o prazer de saber muito sobre a curta trajetória desse homem que foi um dos mais dignos literatos cearenses, cujas narrativas têm empolgado tantos quantos deleitam-se com a leitura de um bom romance. A obra magistral de Adolfo Caminha atravessou os anos e confirma, centenária, a vocação para ser imorredoura.

Com o aval de Sânzio de Azevedo que lhe presta esta significativa homenagem no ano em que rememoramos o centenário da morte do romancista. Em tempo: a Editora Artium, do Rio de Janeiro, publica neste ano uma edição do "maldito" Bom Crioulo, o romance que fala do amor homossexual de um marinheiro gay. Daí a ojeriza da crítica.


Veja resumo das principais obras:

“O BOM-CRIOULO”

Considerado um dos mais perfeitos exemplos do Naturalismo nas letras brasileiras, O Bom Crioulo em tudo defende a tese determinista, segundo a qual o homem deve ser retratado dentro de um ambiente pernicioso e podre, decorrendo daí seu caráter enfraquecido e perverso, sua falta de travas morais, sua perversão, principalmente sexual, causadora de seqüelas irreversíveis como a bestialização, a insanidade mental, a histeria ou a degradação.
Nesse romance, pela primeira vez na Literatura Brasileira, é tratado o tema do homossexualismo, tendo como foco a vida dos marinheiros, retratada, às vezes, com requintes descritivos que chegam às raias da fotografia. Narrado em terceira pessoa, esse romance, datado de 1895, tem como protagonista o jovem Amaro, negro escravo, homem forte e de boa índole, mas de espírito fraco que foge da escravidão e se embrenha na Marinha. Aí conhece Aleixo, grumete que atrai o bom crioulo por ser exatamente o oposto, branco e frágil. A narrativa transcorre linear, e gradativamente o autor deixa o leitor conhecer um vasto painel dos fatos que envolvem o caso amoroso de Aleixo e Amaro. No entanto, Aleixo também é o ponto máximo do amor da portuguesa Carolina, prostituta, mulher excessivamente carente, que nunca havia conhecido o amor desinteressado e é atraída pelo espírito infantil do rapaz branco, pelos olhos azuis e puros. Na terra, envolve-o pelo amor carnal e passa a ser sua amante, mãe, amiga e transpõe para Aleixo todo seu coração reprimido pelas cruezas da vida, ama-o como mulher e como mãe, uma vez que ela não tivera a oportunidade de gerar filhos. O ciúme interfere nesse singular triângulo amoroso, fazendo Amaro agir irracionalmente, como um animal diante do instinto selvagem, destruindo a sua única razão de ser e de viver. Ambientado preferencialmente no mar, o romance de Adolfo Caminha é a síntese da perversão sexual, descrita de modo ousado e chocante com a arte e a técnica de um artista que soube captar com fidelidade os aspectos cruéis de uma fria realidade.


“A NORMALISTA”

A Normalista , considerada obra "libidinosa", quando de seu lançamento, ajusta-se perfeitamente às propostas do Determinismo. João da Mata desfruta sexualmente de sua afilhada. Maria da Mata , moça ingênua, de uma excepcional brandura de caráter, educada em uma casa de caridade e depois normalista. Pressionada pelo instinto sexual e por circunstâncias superiores à sua vontade, Maria do Carmo entrega-se ao padrinho, submetendo-se totalmente à lascivia de João da Mata.

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